Insónia


Às cinco da manhã levei um tiro no peito
Abri a porta e lá tavas tu de corpo feito
Disseste-o com rosas mas  senti cada espinho
Gelou o meu corpo essa merda de baton no colarinho
Desde o nosso encontro que as olheiras são só minhas
Visto-as de noite e não as tiro de dia
Fazer queixinhas de longe me alivia
E contar carneiros é de muito pouca serventia na minha mente    
não faltas tu ao compromisso
Bates-me no pensamento como um relógio suiço
Na solidão da noite lá apareces tu fluorescente e o alarme soa       
no meu peito já desfeito às noites em branco     
seguem-se dias bem escuros em que não penso noutra coisa 
senão em dar-te murros
Brincaste com o meu corpo e eu gostei da brincadeira
Passaste-me foi a ferro e em plena passadeira

A culpa foi minha porque fui a toda a velocidade
Fiz curvas e contra curvas na tua imaturidade
Acabei por me espetar nos teus olhos castanhos
Que afinal não tinham porra de encantos tamanhos
O silêncio da noite grita todas as frases não ditas
Todas as vírgulas e os pontos e também as tuas fitas
A verdade é que tu foste uma grande armadilha
Não sei como pensei que fosses o homem-maravilha
Onde fui eu buscar que tinhas alguma magia
Agora só me provocas uma tal de aerofagia
Mas os anos passam e com eles vou aprendendo
Dentro do meu peito vou por uma ou duas pilhas
Estes dois meses foram tal e qual guerrilha
E eu fico sempre presa na porcaria da presilha
Vou é ter com o vitinho que as horas já vão largas
Vou contar carneiros enquanto tu fodes as cabras