Aromia Moschata, da família das Longhorn Beetles

Tirei o Sábado para ir com o Rob Tom Smith até à Riviera. Estava um calor daqueles que nos obriga a estar sempre a rodar tipo espeto na brasa. Tirei o carocha da garagem e fui a vinte à hora até à praia. No bar da Riviera comecei a ser causticada por pintas pretas em todo o corpo que depois de analisadas atentamente por mim, se transformaram em insectos pretos e peludos. Não me considero uma miúda da cidade mas quem me conhece sabe também que não sou um bicho do mato, por isso apercebi-me que o melhor para mim e para os bichos era um de nós mudar de lugar. Eles não se sentiram incomodados comigo, por isso, respeitei o ditado popular e mudei-me. Peguei na mochila, na toalha amarela e no Smith e fui para a areia terminar de comer o hambúrguer com batatas fritas. Saudável, sentei-me na toalha e em poucos segundos a toalha ficou preta com as mil patas de cada insecto. Enojada, sacudi-me e despi-me, como se estivesse atrasada para nascer, e nos meus mil-pés fui a correr para o mar. Mergulhei, nadei debaixo de água e vim à tona no local errado. Ia esbarrando com um cachalote. Tinha uma boca com dentes numerosos e bem desenvolvidos na maxila inferior e poucos ou nenhuns na superior. Quando voltei à toalha, já não havia hambúrguer para ninguém, já tinha deliciado os animais invertebrados da classe insecta, essa família com membros versáteis e diversificados, que quando reunida são mais do que todos os outros grupos de animais juntos. Para onde quer que olhasse no meu corpo via esses energúmenos superorganismos. Assemelhei-me a uma estância balnear no Algarve em pleno Agosto. Resolvi saltar do barco e mudar-me outra vez. A toalha, antes amarela, abandonei-a à sua sorte. Disse-lhe, Vira-te. E fugi para o estacionamento de terra, a perguntar-me se os bichos existiriam mesmo ou se seriam proveito da minha imaginação maléfica, porque mais ninguém parecia dar conta dos pontos pretos voadores. Depois de ter dado umas moedas ao velhote que nos costuma habilmente ajudar a encontrar um lugar perfeitamente visível, não resisti, olhei para todos os lados e vendo-me sozinha, decidi-me e perguntei-lhe, como quem não tem muito interesse na resposta nem duvida se estará a alucinar, Diga-me uma coisa, consegue ver estes bichinhos aqui? E ele tranquilizou-me quando disse, São insectos minha menina, não se preocupe, são só insectos. É do calor, é do calor. Ainda estou para perceber porque é que a partir de uma certa idade nos tornamos repetitivos. Será surdez ou amnésia? Será surdez ou amnésia?
Estive uns quantos minutos a sacudir-me agressivamente, e entrei no carocha. Fui para a praia do Castelo, cujo nome me faz sentir estupidamente segura. Trouxe o Smith junto ao peito, e levei a toalha vermelha que trago sempre no carro, qual pneu sobresselente. Na praia, deitei-me, levantei-me e fui novamente a correr para a água. Estive duas horas seguidas em pé na água, a tremelicar, e a sacudir-me dos insectos que pareciam confundir-me com mel. Ainda levei um ou outro piropo primário dos banhistas, cujos camiões estavam mal estacionados perto da praia, e que me disseram por duas vezes, pecando na originalidade, Sabe, é que a menina deve ser muito doce. Contrariamente ao que se espera de uma praia com o nome de Praia do Castelo, não vi príncipes encantados, só sapos com verrugas e novamente uns quantos cachalotes com fios de ouro pendurados ao pescoço e tatuagens a louvar as mães facilmente confundíveis com nódoas negras. Não vi príncipes, vi apenas um rapaz a ler a Bola, outro a ver a Maxmen, um homem a rodar o piercing do mamilo. Do dele, vá lá. Vi uma cachalote femea e velha a fazer topless de fio dental harmoniosamente bem escondido entre as peles. Um rapaz de uns 20 e poucos anos a ser barrado com creme protector nas costas, nos braços, na cara e no peito, pelo pai. Vi de tudo, só não vi um único príncipe. O Smith também não ficou muito contente com o dia de praia na Caparica, porque eu tinha lhe dito que estaria horas deitada, com o meu biquíni vermelho a comer com ele os bolinhos que acabei por não levar à minha avó, lendo-o de um lado ao outro, e o coitado do Smith acabou por passar o tempo todo na areia, sozinho e varrido pelo vento, pela areia e pelos insectos, entregue à bicharada.