No escuro vou deixar de te ver

Quando nos encontramos no 202, é sempre tão cedo ou tão tarde que somos como dois evadidos que se descobrem na noite fugitiva.
Subimos para o nosso esconderijo e tu roubas-me as roupas. E com elas vai errante o músculo que bate ansioso por ti em mim.
Deitada ao teu lado, o meu corpo é a extensão do teu. E pela janela semi-aberta vejo os ramos das árvores pouco nítidos contra a cor do céu. Contra a cor da tua cama.
Deixas-me o corpo dorido.
E descubro que nos teus lábios é o sabor da dor que me atrai.
Extrais-me o sangue em movimentos ritmados e roubas-me o corpo num assalto desigual.
Eu roubo-te as roupas. Tu roubas-me a alma.
Ladrão.